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A resistência do vinil |
Pouco a pouco, Goiás vai conquistando o espaço que lhe cabe no cenário cinematográfico nacional. Sem muita tradição na arte de fazer filmes, os goianos tem aperfeiçoado a cada dia as suas técnicas, ideias e narrativas audiovisuais, o que tem permitido uma maior visibilidade das produções goianas nos festivais nacionais e internacionais.
Em 1999, ano que o FICA estreou no calendário dos grandes festivais, o cineasta João Batista de Andrade prefaciou meu livro Bennio – Da Cozinha para a Sala Escura, em que demonstrava seu “espanto com a absoluta ausência de um cinema goiano”. De acordo com o pensamento na época do então coordenador geral do Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental, “nos últimos anos, lutando contra todas as regras e, mesmo, contra a má vontade dos que pensam controlar a cultura brasileira, o cinema brasileiro saiu do eixo Rio – São Paulo e mostrou que criatividade existe onde for possível exercita-la”. Nesses anos tenho visto, tanto no mercado quanto nos festivais nacionais e internacionais (com sucesso), filmes de Pernambuco, Mato Grosso, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina, Espírito Santo e tantos outros estados, onde, aliás, houve a preocupação de se criarem apoios locais. E nada de Goiás.
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Cena de Bubula, o cara vermelha |
Já naquele primeiro ano do FICA, em que participaram apenas cinco produções goianas, um convênio entre a Agepel (na época Fundação Cultural Pedro Ludovico) e a ABD-GO (Associação brasileira de documentaristas) possibilitou a finalização de três curtas-metragens em 16mm e 35 mm – Santo Antonio dos Olhos dÁgua, de Kim-Ir-Sem, Bubula, o Cara Vermelha, de Luiz Eduardo Jorge e O Pescador e o Cinema de Ângelo Lima – dois dos quais participaram da mostra competitiva, sendo que um deles (Bubula, o Cara Vermelha), fez carreira nacional e internacional, ganhando diversos prêmios. Os dois últimos mais A lenda da árvore sagrada de Eládio Garcia Telles, prêmio de melhor produção goiana no 1º Fica, foram selecionados no 10º Festival de Curtas de São Paulo e na Jornada Internacional de Cinema da Bahia.
Finalmente, o Brasil estava começando a conhecer um pouco do cinema goiano, já que a última aparição em festivais nacionais havia acontecido em 1978, quando José Petrillo saiu com o troféu Candango de melhor curta-metragem em 35 mm com seu Cavalhadas de Pirenópolis. Passados exatos onze anos desde a primeira edição do FICA, a realidade é bem outra para o audiovisual goiano. Em 2009, a IV Mostra de Vídeo Ambiental de Caparaó, festival capixaba que dedica todos os anos uma janela aos filmes premiados no FICA, apresentou em sua mostra competitiva nacional seis produções de Goiás: Coque do Buriti de Gel Messias; Flower Power de Sérgio Valério, Lamento de Kim-Ir-Sen Pires Leal; É da raiz de Ângelo Lima e Minha Árvore de Andréa Miklos Mocó.
Em maio do mesmo ano, o 4º Festival de Cinema de Maringá apresentou em sua mostra competitiva seis produções goianas: 14 Bis de Guilherme Gardinni, A Resistência do Vinil de Eduardo Casgtro; Coque do Buriti de Gel Messias; É da Raiz de Ângelo Lima; Goiânia – Sinfonia da Metrópole de Rodolfo Carvalhães; O filme que nunca existiu de Sérgio Valério. Rapsódia do Absurdo de Cláudia Nunes, participou do Cine PE 2007 e do 14º Festival de Cinema e Vídeo de Cuiabá.
As mostras e festivais, independentemente de se ganhar prêmios ou não, são muito importantes para qualquer cinematografia porque permite o contato do público com diferentes estéticas e linguagens. Na medida em que o cinema goiano está inserido nesse contexto, ele só tem a crescer, uma vez que recebe críticas de outros profissionais do meio e os realizadores podem comparar o que estão fazendo, tanto em termos de estruturação de roteiros quanto na própria estrutura narrativa, com outros filmes/ vídeos do resto do país.
Com o advento do FICA, o estado deu o pontapé inicial para tornar-se um pólo de exibição e de produção do cinema goiano. Em todas as suas edições, o festival vem estimulando os cineastas goianos a produzirem mais e melhor a cada ano, ainda que as produções locais, em sua maioria, careçam ainda de aperfeiçoamento técnico e artístico, principalmente no gênero ficção, mas também no documentário. O FICA tem demonstrado que o cinema perdeu a ingenuidade diante do grau de perigo que as agressões descontroladas do homem têm causado ao meio ambiente, principalmente no século passado, cujas conseqüências estamos vendo refletidas no atual milênio.
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Antonio Fagundes em O tronco |
Nesse contexto, para que as produções goianas possam competir em pé de igualdade com os filmes ambientais nacionais e estrangeiros é necessário que os realizadores tenham pleno domínio das técnicas narrativas cinematográficas de uma maneira geral. A fim de fazerem filmes ambientais competitivos, os realizadores goianos têm de exercitar também a feitura de filmes ficcionais que dialoguem de forma inteligível com o público.
Lembrando que em Goiás, a produção de curtas-metragens é muito mais substancial do que a de longas. Até o final de 2011, foram produzidos no estado 345 curtas, enquanto até o início de 2009 foram produzidos apenas 23 longas, como Césio 137 – O pesadelo de Goiânia (1990) e O tronco (1999), segundo Antonio Leão da Silva Neto em seus dicionários de longa e curta metragem.
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A salvação da vida de alguém pode estar dentro desse tubinho:
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